Sim. Eu lembro da escola.
Na minha cuca era apenas o "Pascoal" sobrenome do dono da escola, um cara
robusto tal qual sua mulher que, eventualmente, apareciam por lá e eram vistos
como autoridade.
Lembro da professora Ivana que andava
"marchando" só que com passos largos e acelerados. Lembro de tentar
imitar o jeito dela de andar, impossível. Era demais aeróbico e difícil de
manter a toada... As aulas de sabatina eram com ela. Íamos em dupla aquele que errava dava o bolo
no colega. O meu amigo era o Dinho. Nossa amizade durou toda a tabuada de
multiplicação quando estávamos na de dividir de "3" ele vacilou.
Lembro do olhar da professora e do burburinho da classe frenética "dá-lhe,
dá-lhe ". Dei - lhe .
A palmatória era pesada e tinha um furo no
Centro da concha que era pra "chupar" quando atingia a palma. Juro,
eu maneirei. Dinho chorou não pelo impacto da palmada, mas pelo oníssono "
uh vai chorar, uh vai chorar... " que os colegas gruniam em coro. Provei do amargo meses depois na de dividir
de "7", 49÷7 = 7, 56÷7=8, 63÷7 = 6” E... Tam! Vi muitos morrerem
nessa fase do jogo.
Como nessa fase não haviam mais duplas, o
ranço dos espalmados dominava o ar, eu ainda era um sobrevivente e quem me
aplicou a palmada foi a professora Ivana, impacto não foi tão forte. Forte foi
o gosto da derrota, o olhar insano da galera querendo a lágrima, mantive o
sorriso até a curva da minha fila, e o coro não parava " uh vai chorar, uh
vai chorar" , foi ali então que a psicologia reversa se fez.
O rosto se desfigurou e as lágrimas esparsas brotavam generosas e o delírio do
povo. Era como uma febre coletiva uma bolsa de apostas que todos ganham como se
o Silvio Santos tivesse jogado aviões de R$ 100 pra todos simultaneamente, uma
loucura. Fui para o meu lugar. Ao lado, Dinho que há
meses não me dirigia palavra, impávido, me fitava e ao se fazer silêncio eu
ainda choramingando, ele pegou no meu ombro e disse: "eu sei o que estás
sentindo".
Voltamos a nos falar, afinal a dor pode
aproximar pessoas.
Israel Andrade Oliveira (Rael) entre tantas coisas é poeta, atleta, ufólogo, frontman da banda "Superself", mas o que mais gosto é que ele é meu primo, mais para irmão.
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