sábado, 6 de agosto de 2016

Memórias Raelísticas

                       Sim. Eu lembro da escola. 
                   Na minha cuca era apenas o "Pascoal" sobrenome do dono da escola, um cara robusto tal qual sua mulher que, eventualmente, apareciam por lá e eram vistos como autoridade.




            Lembro da professora Ivana que andava "marchando" só que com passos largos e acelerados. Lembro de tentar imitar o jeito dela de andar, impossível. Era demais aeróbico e difícil de manter a toada... As aulas de sabatina eram com ela. Íamos em dupla aquele que errava dava o bolo no colega. O meu amigo era o Dinho. Nossa amizade durou toda a tabuada de multiplicação quando estávamos na de dividir de "3" ele vacilou. Lembro do olhar da professora e do burburinho da classe frenética "dá-lhe, dá-lhe ". Dei - lhe .


           A palmatória era pesada e tinha um furo no Centro da concha que era pra "chupar" quando atingia a palma. Juro, eu maneirei. Dinho chorou não pelo impacto da palmada, mas pelo oníssono " uh vai chorar, uh vai chorar... " que os colegas gruniam em coro. Provei do amargo meses depois na de dividir de "7", 49÷7 = 7, 56÷7=8, 63÷7 = 6” E... Tam! Vi muitos morrerem nessa fase do jogo.


         Como nessa fase não haviam mais duplas, o ranço dos espalmados dominava o ar, eu ainda era um sobrevivente e quem me aplicou a palmada foi a professora Ivana, impacto não foi tão forte. Forte foi o gosto da derrota, o olhar insano da galera querendo a lágrima, mantive o sorriso até a curva da minha fila, e o coro não parava " uh vai chorar, uh vai chorar" , foi ali então que a psicologia reversa se fez.

          O rosto se desfigurou e as lágrimas esparsas brotavam generosas e o delírio do povo. Era como uma febre coletiva uma bolsa de apostas que todos ganham como se o Silvio Santos tivesse jogado aviões de R$ 100 pra todos simultaneamente, uma loucura. Fui para o meu lugar. Ao lado, Dinho que há meses não me dirigia palavra, impávido, me fitava e ao se fazer silêncio eu ainda choramingando, ele pegou no meu ombro e disse: "eu sei o que estás sentindo".



           Voltamos a nos falar, afinal a dor pode aproximar pessoas.


Israel Andrade Oliveira (Rael) entre tantas coisas é poeta, atleta, ufólogo, frontman da banda "Superself", mas o que mais gosto é que ele é meu primo, mais para irmão.


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