domingo, 18 de dezembro de 2016

Cartão de Natal.


             Chegou mais um Natal. Época de luzes enfeitando casas pela cidade.
             Nem todos curtem a "magia de Natal", pode nem parecer, mas não é uma data unânime para todos, mas a vivenciamos de alguma forma. Boa ou não. Acumulando histórias a respeito.

             Desta vez, não vou contar um fato específico, mas sobre algo que já foi muito característico da época e que adoro: cartões de Natal. Sempre amei recebê-los, mas minha alegria maior, para mim, não está apenas no ganhar, acredite.

             Este belo costume veio com exemplo que veio de casa: meu pai escrevia cartões com mensagens personalizadas para a pessoa destinada. Comprava vááários cartões e ia preenchendo a "parte em branco". Guardei aquela cenário do quão bom é fazer isso e me afeiçoei àquele bonito gesto.     
     
             Assim, comecei entregando aos parentes próximos, amigos mais queridos e pessoas especiais. Não foi difícil logo fazer parte de uma tradição particular da época. Como professora que sou, comecei a ganhar de meus alunos e é emocionante isso, tenho guardados até hoje.

             Lembro de uma certa vez eu entregar quase 100 cartões para eles, quando estava me desligando de uma escola, foi um momento muito especial que guardo até hoje a sensação e o tanto de abraços que recebi...

             E é nisso que me prendo, que me faz feliz em escrever, especificamente, para aquela pessoa.
             Aquele momento, em que se entrega aquelas palavras carinhosamente fez, é de preencher a alma. Eu adoro o olhar de surpresa, o sorriso, o emocionar de quem o ganha e, por fim, um abraço terno. Não consigo descrever bem o que sinto, mas é como uma onda de boas energias inundando.

            É uma pena que hoje em dia este tão singelo e significante hábito parece ter caído em desuso, trocar cartões se tornou raro. Até mesmo encontrá-los que era tão comum, têm sido mais difícil. Quando encontro, agradeço logo. Se as pessoas soubessem o quanto é gratificante o simples fato de dar um cartão para alguém...
            Quando não os encontro, confecciono, ficar sem, não fico, jamais.

            Creio que é aí que mora o espírito natalino, nos bons sentimentos que permeiam a data, no que ela realmente representa, em trocar vibes positivas, mais empatia ao próximo, carinho e tudo mais de bom que for relacionado a este período. Natal para mim, é isso.

            Escrever estes cartões de Natal é hábito para toda vida, uma tradição eterna no meu coração. Não tem como sair de mim.

                 FELIZ NATAL, MINHA GENTE!!!!
          FELIZ ANO NOVO!!!!







 



domingo, 27 de novembro de 2016

Natural percurso

Momentos únicos. Pessoas singulares. Vivências.

E a vida como estrada cheia de curvas e obstáculos.
Caminho repleto das mais variadas emoções.
Nem dá pra disfarçar ou evitar.
Só encarar.
De desilusões a conquistas.
Tem de um tudo.



Flores morrem.
Histórias acabam.
Músicas desaparecem...
Memórias são esquecidas.
Tudo tem um fim.
Ou quase.

O melhor disso é o que fica em você.
Pegadas deixadas.
Pessoas e momentos.
O caminho percorrido.

Sentimento de felicidade não é diário.Tempo é remédio para muita coisas. Nem sempre não cura, deixa mais visível o que estava escondido ou despercebido. 
Às vezes, até machuca. Incomoda.
Contudo...
Acima de tudo.
Ensina.



quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Lindo ofício meu.

Há catorze anos sou professora e lembro como se fosse ontem, meu primeiro dia dos professores. Um único aluno lembrou da sala em que estava, me olhando ainda na dúvida disse: "hoje é dia do professor, né?". 
Nem precisa dizer que fiquei arrasada. No final do dia ainda falei a respeito sobre essa desvalorização à minha turma que ficou encabulada por não ter lembrado... Tempo foi passando e as coisas foram melhorando, as pessoas foram lembrando. E os parabéns foram se transformando em mais parabéns, lembrancinhas, até festinhas com direito a bolo e balões enfeitando a sala.
São 14 anos como a "tia Ale" - agora pró Ale, versão by Salvador. Hoje vejo os belos frutos do meu trabalho nas faculdades, universidades e até fora do país já foram, estudando. E agora orgulhosamente se formando. Muitos lembrando e dizendo: "essa vitória é sua também".

Como não ir às lágrimas com isso? 

Feliz fico por ter participado da vida dessas pessoas, espero ter ajudado, feito o mínimo de diferença porque assim é a minha doce sina. Uma pessoa me disse uma vez: "você não se sente mal em ver tanta gente ainda te chamando de tia, não se sente envelhecida? Eu me sentiria...". 

Jamais me sentiria assim com uma demonstração de carinho como essa, espero que me chamem se sentirem à vontade para tal, eu adoro. De certa maneira, é como ser "imortalizada", porque você viverá na memória deles de uma forma tão singular. Quando reencontro antigos alunos é muito bom ver o carinho e consideração com que me tratam. Geralmente, é uma alegria muito grande, modéstia à parte.

Ao longo do caminho, alguns se vão. Fica uma dorzinha no coração com a partida deles, mas fica o melhor deles com você em suas memórias. Incrível.

A todos vocês que foram meus alunos, um muito obrigada. Nossas histórias se misturam, são participantes uma da outra. Aprendi e aprendo com vocês mais que imaginam.
Pela amizade de muitos que tenho. Sou muito feliz por ser professora e por ter participado da vida de vocês. 



   O B R I G A D A !!!! 

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Três anos de Roma Negra


               Esta semana, neste dia 15, completei três anos que moro em Salvador e foram altos e baixos de uma morada que hoje considero tranquila. A visão que tinha de SSA era a mesma que milhares que têm daqui de só carnaval e os famosos pontos turísticos. Cheguei com aquele brilho no olhar de quem recomeça algo, recém-casada, mil e uma coisas novas.

               Enquanto se está numa de "olhar de turista", tudo te vislumbra muito. É muita energia positiva que parece te limpar por dentro de muitas coisas. A novidade pode inebriar tão rápido, foram muitas informações, trabalho e amigos novos.  E achar que aquilo te basta.
               Mas a vida vai tomando outros rumos e algumas coisas começam a não mais se encaixar. Não é só questão de sair da "zona de conforto", as situações te afetam demais e você fica , deveras, desnorteado. Você quer dar um restart em tudo, mas não pode, é claro. A cidade me enfadou. Às vezes, você transpõe suas dores em outros alicerces. Fiquei "de mal". Relacionamento azedou...
               Nem as belas paisagens me enchiam mais os olhos. Foi um bom tempo andando num grande labirinto de várias sensações, desagradáveis, maioria delas. 
               Contudo, como diz o ditado: não há mal que dure... E os bons ventos te encontram e aos poucos, o tempo e a boa ocupação vão te curando, boas pessoas que, com carinho, te mostram o caminho do sorriso e reencontro consigo próprio.
                A gente reaprende a apreciar o que estava de lado.
                O que te tirava dos eixos é o que te ajuda a recompor.
                Dia desses, eu ouvia "Reconvexo". A composição é de Caetano Veloso, mas foi a interpretação da irmã, a diva Maria Bethânia. Lembrei do meu tio Argemiro que sempre ouvia Mpb e naquele momento, senti um sentimento bonito e nostálgico, agradeci a Deus, não me entristeci. E percebi que a Roma Negra tem sido, sim um, bom lar.
                Tudo tem seu tempo. Há tempo para tudo mesmo. 
                Moro no bairro mais bonito que já vi, com cada pôr-do-sol mais lindo que o outro, eternizado por Vinicius de Moraes onde passar a tarde e falar de amor é o regalo mais belo.


quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Dos tempos de primário

        Foi na primeira série do Ensino fundamental que conheci aquela que seria,foi e, ainda deve ser, uma das professoras mais legais do mundo. 

       Naquela época não tinha internet, não tinha celular, as brincadeiras eram de se sujar, correr, de pique ou de “pira” (como se dizia na minha terra). E a gente se divertia à beça naquele tempinho do recreio. Mas voltando ao início, a professora Alice, lembro dela até hoje, também tinha sido professora da minha turma na 2ª série e isso contribuiu muito para que todos na classe ficassem bem afeiçoados a ela. Era alta de pele morena e cabelo crespos, era linda. Explicava com a paciência de um anjo e repreendia com a avidez de um carcereiro, mas nada impedia que eu gostasse dela, aprendi muito com aquela professora.

       Lembro que ainda na primeira série, eu, garotinho bobo que mal sabia atravessar a rua sozinho, certo dia estava fazendo uma prova na sala de aula, cuja matéria nem me lembro, mas eu estava indo bem (na minha opinião). Parecia que eu estava acertando tudo e fiquei contente com a minha expectativa. 
       Quando terminei a prova, eu simplesmente saí da sala e sem que ninguém notasse, pois estavam todos concentrados em suas provas e a professora estava com o olhar abaixado, estava lendo alguma coisa, uma prova de outro aluno talvez, ninguém notou que eu estava saindo com a prova que acabara de fazer, em minhas mãos, achando que, sei lá, a nota apareceria como que por mágica ou automaticamente, durante o percurso de volta pra casa, estava ansioso para mostrar pra minha mãe que eu tinha ido bem na prova ( muito bem, modéstia à parte). Mas quando cheguei em casa, todo contente, fui logo ao encontro de minha mãe e disse:

- Olha aí mãe, será que eu tirei dez? – Com aquele sorrisinho de garoto que vai ganhar estrelinha na testa.
- Meu filho! Tá sem nota isso daqui, tu não entregaste pra professora corrigir não?
- Não, tem que entregar?
- Claro! Vamos voltar lá agora!

        Ah! Tinha que relevar né, era tipo a minha primeira prova de verdade, eu estava na primeira série. Na alfabetização que chamavam de “pré” era tudo menos sério, não tinha provas assim. Era um mundo novo que eu ainda estava descobrindo.


       Chegamos de volta à escola, eu e minha mãe, encontramos com a professora Alice meio que na porta da escola. Mamãe tratou logo de explicar que eu havia levado a prova “sem querer” e entregou a ela a prova, sem maiores problemas. Claro que à essa altura a professora já tinha notado que eu havia sumido e minha prova também, o que explicava o fato de a termos encontrado próximo a porta da escola. Eu dei um sorrisinho sem graça para a professora, estava um pouco envergonhado por ter sido tão bobo. Voltamos pra casa e a vida continuou. Eu era um ótimo aluno naquela época, posso afirmar que isso se dava em grande parte à minha inteligência (é claro) e aquela professora que eu nunca esqueci.



Edinei Lisboa da Silva, Sargento da Aeronáutica, Especialista em Metalurgia. Autor do livro Poesia, prosa e canção, publicado pela Chiado Editora. Escreve no Blog do Argonauta, um pouco da própria vida e da vida em si. É meu poeta favorito e meu querido marido.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Memórias escolares


Uma das minhas primeiras memórias escolares são relacionadas a aromas.

Um perfume adocicado forte sempre vai me lembrar "o primeiro dia de aula", aquela sensação de nervoso em começar em um lugar novo. Essa memória é de quando eu tinha 6 anos, durante a alfabetização. Eu tenho lembranças bem nítidas desse período. Lembro da sensação de felicidade em começar a aprender a ler. Primeiros os encontros vocálicos, depois as famílias das consoantes. Lembro de como adorava brincar de massinha e rabiscar as margens da folha do caderno. 

A vontade de escrever começou logo quando eu tinha 10 anos. Eu criei uma peça chamada "Duro de escolher" em que um príncipe conhece 3 camponesas e tem que decidir qual vai casar. Foi muito divertido ver meus amigos de escola encenando algo que eu tinha escrito. Esse período da quarta série definitivamente foi um dos meus favoritos. Adorava ler em voz alta os textos dos livros que as professoras pediam e não conseguia entender porque alguns colegas tinham tanta dificuldade. 


Já o período da quinta à oitava série foi mais difícil. Mudança de escola e sala quatro vezes maior. Convivência com garotas de 13 anos, que já pensavam em garotos e tinham atitudes mesquinhas só pra impressionar. Eu até conversava com algumas pessoas, mas passava mais tempo na biblioteca, onde fiquei amiga da bibliotecária. Esse foi um período um tanto solitário, mas foi importante, porque a partir dessa época comecei a escrever mais.

Mesmo com vários erros de ortografia, eu pegava os cadernos que não usava mais e "detonava as canetas", como a minha mãe dizia. Além disso, a amizade com Sônia, a bibliotecária, foi bem importante, afinal, ela me emprestou dois livros de uma série chamada Harry Potter para ler. Uma história bem bacana, sabe. Já ouviu falar?

Na sétima série, fiz boas amizades e foi mais uma vez muito prazeroso ver meus amigos lendo o que eu tinha escrito na série anterior. O engraçado é que, apenas há pouco tempo atrás, resolvi digitar essa história. Mas foi legal ver algo que eu tinha escrito há tanto tempo atrás. 

O Ensino Médio foi um período mais tranquilo. Fiz amigos logo no início. Amigos que, por sinal, continuo mantendo a amizade até hoje. Eu tinha ido para o colégio que eu tinha escolhido e conseguido passar na prova. O antigo Cefet, agora Ifpa. Foi difícil lidar com matérias que eu não gostava nem um pouco, como Física, mas também foi ótimo, pois o professor de História era rígido, mas me ensinou muito. 

A minha trajetória escolar contribuiu, com certeza, para eu me tornar a pessoa que sou hoje. Todos temos lembranças boas e ruins dessa época, mas é justamente essa mistura de altos e baixos que faz cada história ser única. 



Emanuele Oliveira é Publicitária formada, uma escritora criativa e tem viajado pelo mundo explorando novas culturas e aprendendo novos idiomas. É minha prima querida, amiga e confidente.

sábado, 6 de agosto de 2016

Memórias Raelísticas

                       Sim. Eu lembro da escola. 
                   Na minha cuca era apenas o "Pascoal" sobrenome do dono da escola, um cara robusto tal qual sua mulher que, eventualmente, apareciam por lá e eram vistos como autoridade.




            Lembro da professora Ivana que andava "marchando" só que com passos largos e acelerados. Lembro de tentar imitar o jeito dela de andar, impossível. Era demais aeróbico e difícil de manter a toada... As aulas de sabatina eram com ela. Íamos em dupla aquele que errava dava o bolo no colega. O meu amigo era o Dinho. Nossa amizade durou toda a tabuada de multiplicação quando estávamos na de dividir de "3" ele vacilou. Lembro do olhar da professora e do burburinho da classe frenética "dá-lhe, dá-lhe ". Dei - lhe .


           A palmatória era pesada e tinha um furo no Centro da concha que era pra "chupar" quando atingia a palma. Juro, eu maneirei. Dinho chorou não pelo impacto da palmada, mas pelo oníssono " uh vai chorar, uh vai chorar... " que os colegas gruniam em coro. Provei do amargo meses depois na de dividir de "7", 49÷7 = 7, 56÷7=8, 63÷7 = 6” E... Tam! Vi muitos morrerem nessa fase do jogo.


         Como nessa fase não haviam mais duplas, o ranço dos espalmados dominava o ar, eu ainda era um sobrevivente e quem me aplicou a palmada foi a professora Ivana, impacto não foi tão forte. Forte foi o gosto da derrota, o olhar insano da galera querendo a lágrima, mantive o sorriso até a curva da minha fila, e o coro não parava " uh vai chorar, uh vai chorar" , foi ali então que a psicologia reversa se fez.

          O rosto se desfigurou e as lágrimas esparsas brotavam generosas e o delírio do povo. Era como uma febre coletiva uma bolsa de apostas que todos ganham como se o Silvio Santos tivesse jogado aviões de R$ 100 pra todos simultaneamente, uma loucura. Fui para o meu lugar. Ao lado, Dinho que há meses não me dirigia palavra, impávido, me fitava e ao se fazer silêncio eu ainda choramingando, ele pegou no meu ombro e disse: "eu sei o que estás sentindo".



           Voltamos a nos falar, afinal a dor pode aproximar pessoas.


Israel Andrade Oliveira (Rael) entre tantas coisas é poeta, atleta, ufólogo, frontman da banda "Superself", mas o que mais gosto é que ele é meu primo, mais para irmão.


domingo, 31 de julho de 2016

A arte de esperar


Respirar fundo.
Seguir.
Confiar.
Difícil missão. 
Complicado exercício.

Mas e o que não é nessa vida?
Só o que não dá trabalho...

As estações passando.
O mundo girando.
O tempo parece estagnando...

Expectar.
Esperar.
Aguardar...

Não é .
Nunca foi.
Nem nunca será fácil a arte de esperar.





sábado, 11 de junho de 2016

Um lugar chamado meu quintal.

         Todo mundo, ou quase,  gosta de ter o seu lugar especial.
         Aquele que faz centrar, pensar, extravasar, se sentir bem, se conectar a si mesmo.
         Eu tinha o meu. 
         Um lugar simples. Não era só meu, mas eu era só dele quando ali estava.
         Era o meu quintal.
        Tínhamos um quintal lindo, grande, com muitas árvores frutíferas, sombra e acolhedor.
         Lá tinham árvores da época que meu pai comprou, como o frondoso abacateiro que só veio dar frutos depois de quase 20 anos e os cajueiros que minha avó plantara quando meu irmão caçula nasceu. Goiabeiras que gostávamos de nos pendurar( cada um de nós tinha o seu e minha mãe tinha o de goiaba "da branca"), muitas "touceiras" de açaizeiros, cupuzeiros lindos (quando chegava época, fazíamos competição de quem achava mais cupuaçu e decidia o que fazer com ele: suco ou creme), pé de carambola que era até docinho...
             Meus pais sempre plantavam "integrantes novos" que ganhavam de presente de outras pessoas. E assim, o quintal ia se renovando.
         Mas o que eu mais gostava mesmo era de andar de bicicleta, sempre que podia, lá estava eu, pedalando pelo quintal, criando marcas na areia dele. Se eu tivesse feliz, triste, chateada, aborrecida, sempre passeava por ele. Era bom pra refletir e repensar em minhas caraminholas de adolescente.
          Gostava de andar depois daquela chuva boa e característica de Belém. A terra molhada, os galhos encharcados batendo em mim, quando passava por eles ou quando balançava as árvores. Pedalava até escurecer. Não tinha nada melhor.

           Também gostava de caminhar nele, especialmente, após o almoço por suas sombras. Meus pais iam junto também. 
           Áreas verdes são as minhas preferidas sempre. Na antiga casa da minha vó, também tinha um quintal módico, mas lindo e cuidado por ela, o amor dela por plantas é infinito. Acho que por isso que também gosto. Lá também era um lugar.
             O sítio dela era o máximo, um lugar que era o meu refúgio também. Local lindíssimo e a companhia dos meus primos e tios me renovavam sempre.
              Lugares verdes da cidade, então me fazem me perder ou na verdade, me encontrar. Desde sempre estive neles, praças, bosques, parques. Isso me envolve completamente.
               
               Dizer que sinto falta do meu quintal é "chover no molhado". Meu pai, há mais 10 anos atrás precisou vender uma parte dele. Era o preço do progresso, como ele sempre dizia. Resoluto. Mas quando vê as fotos antigos do lugar, até se emociona. Ainda bem que tiramos algumas fotos, fica a recordação de uma infância vivida, de muitas histórias, brincadeiras, reuniões de família, churrascos, aniversários... Agradeço a Deus por tantos momentos maravilhosos lá...
                Sempre soube e hoje mais que nunca que lugar mais especial, era o meu quintal. 
              



domingo, 5 de junho de 2016

As saudades de Clarice

Saudades
Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,
quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,
eu sinto saudades...

Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,
de pessoas com quem não mais falei ou cruzei...

Sinto saudades da minha infância,
do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro,
do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser...

Sinto saudades do presente,
que não aproveitei de todo,
lembrando do passado
e apostando no futuro...

Sinto saudades do futuro,
que se idealizado,
provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...

Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei!
De quem disse que viria
e nem apareceu;
de quem apareceu correndo,
sem me conhecer direito,
de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.

Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito!

Daqueles que não tiveram
como me dizer adeus;
de gente que passou na calçada contrária da minha vida
e que só enxerguei de vislumbre!

Sinto saudades de coisas que tive
e de outras que não tive
mas quis muito ter!





Sinto saudades de coisas
que nem sei se existiram.

Sinto saudades de coisas sérias,
de coisas hilariantes,
de casos, de experiências...

Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia
e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer!

Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar!
Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar,

Sinto saudades das coisas que vivi
e das que deixei passar,
sem curtir na totalidade.

Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...
não sei onde...
para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi...

Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades
Em japonês, em russo,
em italiano, em inglês...
mas que minha saudade,
por eu ter nascido no Brasil,
só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota.

Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria,
espontaneamente quando
estamos desesperados...
para contar dinheiro... fazer amor...
declarar sentimentos fortes...
seja lá em que lugar do mundo estejamos.

Eu acredito que um simples
"I miss you"
ou seja lá
como possamos traduzir saudade em outra língua,
nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha.

Talvez não exprima corretamente
a imensa falta
que sentimos de coisas
ou pessoas queridas.

E é por isso que eu tenho mais saudades...
Porque encontrei uma palavra
para usar todas as vezes
em que sinto este aperto no peito,
meio nostálgico, meio gostoso,
mas que funciona melhor
do que um sinal vital
quando se quer falar de vida
e de sentimentos.

Ela é a prova inequívoca
de que somos sensíveis!
De que amamos muito
o que tivemos
e lamentamos as coisas boas
que perdemos ao longo da nossa existência...

Clarice Lispector

sábado, 14 de maio de 2016

Flores de maio

              Todos os dias passo por um mesmo caminho que não é tão bonito assim, mas que tem algo nele que gosto muito.
              Algo que me faz lembrar de algo meio remoto de minha infância e de minha mãe.
               Flores.
               Hibiscos - que  eu achavam ser papoulas porque me disseram que era esse o nome.


               Quando ando vejo essas flores de vários tons.
               Amarelos, rosas, vermelhos...
               E, toda vez, a vontade que tenho de colher é igual quando eu era criança.
               Todos os dias, elas estão lá, belas e abertas em sua simplicidade que traz a gostosa sensação familiar de já conhecê-las.
                Lembro que havia um galho de hibiscos rosas que caíam pro nosso lado do muro e que eu aguardava, ansiosamente, para colher.
               Minha mãe sempre reclamava para eu não fazer isso, mas eu não resistia, elas me chamavam para serem colhidas. Daí eu fazia um ramalhete ou num recipiente com água.
              Depois de um tempo, tínhamos nosso próprio "pé de hibiscos". Vermelhos. E eu continuei recolhendo-os e sempre saía pulando, tirando umas formigas de mim, que davam muito nele. Era o ônus a se pagar.
               Ficava triste quando alguém dizia que elas não eram bonitas como rosas. Pra mim, isso nunca importou.
               Na casa da minha avó também tinha e quando ia por lá, acabava pegando alguma também.
              
               Hoje, sinto uma terna sensação em ver todos os dias tantas delas, como me cumprimentando, num aceno mudo. Eu ainda escuto a voz de minha mãe ao vê-las e até me emociono.

             E, sim, ainda carrego uma e outra delas para mim.




quinta-feira, 21 de abril de 2016

Novas estradas para meu carro velho.


A sensação é de andar no deserto. Murros em ponta de faca.
Aquela frustração de estar morrendo de sede e encontrar a garrafa seca, sem uma gota d'água.
Mas você continua lá, por quê? Não há mais nada a se aproveitar. Acabou. 
Você se sente esvaído. Não há mais motivos em gastar, sua mente e coração não estão mais lá.
É o fim.
É o fim? 
Mas todo fim é um começo. Um recomeço. 
Hora de procurar outras estradas.
Tudo na vida tem um preço. Há quem diga que não é bem assim. Estou começando a acreditar que é assim, sim. 

Muitas vezes, estamos vivenciando algo em que nos vemos no limite. É inevitável refletir ou pensar um pouco que seja se ainda é válido, se você precisa insistir nisso e em fazer sacrifícios de tolo por causas que são mais que perdidas.
Seja um relacionamento, um projeto, um trabalho.
Se não é para se sentir bem, é mecânico, automático, não é prazeroso e você não acredita mais,  por que estar lá, ainda?
É muito doído ver, num primeiro momento, que você se dedicou, doou e devotou seu tempo "para nada" no final. Porém, aos poucos, você entende que tal retirada de campo, sua escolha foi a melhor para sua vida. Mudar é preciso. Decisão acertada.
Tenha certeza que as peças desse intricado quebra-cabeça em que você se encontra, logo aparecerão e se encaixarão. Que o preço a se pagar, de se reencontrar e estar em paz consigo mesmo, é caro, mas que vale muito a pena.

Aí, você leva seu velho carro para correr em novas estradas, com paisagens novas para apreciar e lições novas para aprender. E dores do presente serão capítulos de belas aprendizagens do seu livro da vida, um passado não dolorido, mas de obstáculos ultrapassados. Olhar para trás não será ruim, terá a sua devida beleza. 













segunda-feira, 21 de março de 2016

Tempos de escola

Este é um post que saiu um pouco atrasado, mas muito pertinente nestes tempos... Época de escola.
Bom, para mim, não é algo difícil de se falar, já que sou professora há tanto tempo, mas não é da minha prática que venho vos falar, exatamente. É que vendo tanta criança entrando, cada vez mais cedo, na escola, fiquei pensando sobre a real necessidade disso e me lembrei dos meus primeiros dias na escola.

Naquela época (ok, soa meio antigo, rsrs, mas já faz um relativo tempo mesmo), a vida era diferente e quando me reporto a este tempo, lembro que não havia toda essa correria, tudo era mais devagar.

Minhas primeiras lembranças são flashs  com imagens de crianças bem pequenas correndo e brincando e depois de estar usando massa de modelar e pintando desenhos grandes. Aí, lembro da minha primeira série, da professora Vera, de uma pasta linda e perfumada da Hello Kitty, de uma turma beeeem grande com meninos mais velhos que eu. 

Estava com 5 anos, já lia e escrevia bem, além de fazer continhas básicas. Lembro de muita gente ficar abismado com isso, mas eu nem dava muita bola para o porquê daquele espanto.
Mas a letra era péssima... Ah, ah, ah... Um garrancho que fazia meu pai arrancar os cabelos. Com o tempo, a caligrafia ficou boa, mas até um tempo desses, minha tia Aldima me perguntou se havia melhorado. Fama da letra desengonçada me perseguiu por muito tempo.

Eu ia com meus primos para o EEEF "Celina Del Tetto" pegar cedo o ônibus. mamãe muitas vezes nos deixava bem na porta e, quando voltávamos, eu a via nos esperando na parada e ia correndo pra abraçar. Muitas vezes, o motorista parava na porta também, pois já éramos conhecidos. Engraçado como era normal a gente fazer isso, hoje em dia, nem pensar com toda essa violência solta. A escola tinha um ar bem rural, grande, salas enormes e com muitas árvores e alunos simples. 

Depois terminei meu Fundamental I em outra escola, particular. Bem diferente do "Celina", não conseguia me sentir à vontade, lembro bem do meu desconforto, falava com alguns, mas não era muito de conversar, me chamavam de baixinha por ser sempre a menor da sala. Me sentia fora d'água. Sentia falta da antiga escola, mas o estudo de lá me deu a base que precisava.

Ao ingressar, no Fundamental II, fiquei mais isolada ainda, recordo de sempre observar mais que falar. Com o tempo, para mim, foi melhor assim, firmar amizades demorou um pouco, continuava a caçula da turma e os desafios dos conteúdos me apertando cada vez mais, mas lembro com carinho do CEP, onde outros primos meus e meu irmão também estudaram. Me sentia confortável e ninguém se chateava por eu ser "na minha". Recordo também dos jogos internos, das brincadeiras de sala de aula, do meu professor favorito (Samuel de Matemática que tive o prazer de rever já na faculdade fazendo seu Mestrado). Da orientadora escolar que me ajudou na minha escolha de profissão. De lá boas lembranças tenho, saudades dos colegas e da vivência divertida que tive.

Então, chegou o famigerado Ensino Médio. Fiz o então "vestibulinho", um processo seletivo que era a melhor maneira de um candidato estranho conseguir vaga. Consegui e comecei lá. Demorei mais tempo que na escola anterior para fazer novas amizades, por sentir falta dos antigos colegas. Após alguns meses, finalmente conseguira me enturmar com alguns o que já era o suficiente pra mim. Lá, eu fiz muitos colegas depois e alguns amigos que tenho até hoje. Mas as histórias do "Pedroso", eu deixo para um outro e específico post, pois merece um.

Essas experiências do começo das aulas, guardo como filmes favoritos que todo mundo tem, de tão importantes que foram em minha vida. Muitas coisas, resgatei para minha vida docente e que me marcaram muito. Lições pra vida toda, da época de estudante, já que da vida a gente é eterno aluno.


domingo, 17 de janeiro de 2016

Conselho de madrinha

    Completando hoje mais uma primavera, venho escrever um parecer nada inédito aos ouvidos, mas bastante  pessoal  e creio ser válido. Demorei um pouquinho e venho postar algo só agora, inaugurando o ano de 2016. 

     Todo mundo tem um fardo pra carregar na vida. Comigo não foi diferente e ficava pensando muito, quando aquilo iria acabar e eu teria minha redenção. Claro que na prática, não é bem assim que a banda toca e você, no começo,  não compreende. 

    Resolvi pedir os famosos conselhos amigos que todo mundo insiste em querer. E como diz o ditado se conselho fosse bom... Entretanto, conheço três pessoas excelentes pra isso: minha mãe, minha madrinha e minha melhor  amiga. 

    Gosto de um conselho da minha madrinha que diz algo assim: se imagine daqui a um tempo, um ano. Apesar de se acumular sabedoria e experiência com a vida, não dominamos tudo como podemos, presunçosamente, acreditar. 

    E essa ideia faz mais sentido quando você "se olha" exatamente um ano atrás. E percebe que sua bagagem está mais rica do que imaginava em sabedoria, muitas vezes, superando suas próprias expectativas. 

    E entender que isso é um engrenagem importante pra movimentar a vida não é tão fácil assim como se parece, quem está envolvido nos problemas tem mais dificuldades de enxergar a situação. 

    Então, se projetar em um ano lhe traz, de certa forma, uma motivação necessária para mudar aquele problema ou vivência. Sim, pois sem atitudes não há mudanças.

      Sempre que estou agoniada, frustrada ou envolta em alguma circunstância que creio ser complicada, lembro das palavras dela ou ela simplesmente me diz quando ligo: calma, se imagine daqui a um ano! 
    
    Portanto, com esse ano novo de oportunidades. Por que não já pensar no próximo? Basta fazermos acontecer as mudanças que tanto almejamos.