terça-feira, 14 de agosto de 2018

Meu rango legal

Mês de agosto.
Recomeço das aulas.
Momento de readaptações a todos: pais, alunos, professores...
Passando um dia desses em frente a uma escola, me veio uma memória bem peculiar, não de professora como geralmente tenho, mas de aluna mesmo. De um momento muito importante na vida de quem estuda: a hora do lanche.

Deus, como eu sofria. Sim. Pois lanchar não é como hoje que dá para pessoa ir na cantina/lanchonete da escola, traz de casa ou se a escola oferecer merenda escolar, melhor...
Era bem difícil cumprir tal tarefa porque essas condições mal existiam. Não sobrava dinheiro para comprar lanche diário, levar sempre de casa e a merenda escolar era utopia. É igual o meme diz, ter grana pra adquirir lanche era ostentação.


E a galera que adorava choramingar ou chantagear quem ia comer algo? Ah,era de praxe!!! Tinha quem oferecia por educação e também sofria com os mal educados que metiam a mão no rango dos outros, sem dó, nem piedade.
Eu ficava no meio termo: às vezes trazia algo de casa (não muito elaborado e você ainda era visto como bobo por isso), poucas vezes comprava e muitas outras, voltava pra casa de "saco vazio" mesmo. Por onde eu estudei, raramente ofertavam merenda, então os dias eram levados assim.

Porém, eu não me recordo de ficar mal e não estou fazendo mimimi sobre essa situação. Sim, havia um conformismo nessa vivência. Afinal, o acesso era bem difícil, de fato. Eu não podia exigir um padrão maior na família, mas nunca cheguei ao ponto de passar um aperto maior pela falta. Hoje sabemos da importância da alimentação na escola, contudo, na época era tudo tratado com menor relevância. Não estou romantizando a falta do que comer, apenas relatando como as coisas se davam naquela época.

Problematizações à parte, tinha algo que vendia na cantina do meu saudoso colégio "CEP" que eu fazia questão de juntar os borós pra poder comprar e saborear sozinha: monteiro lopes, biscoitinho paraense delicioso com metade achocolatado de massa leve que derretia na boca...Huuum. Nunca mais comi um igual ao que tinha lá... Ficou marcado no paladar. Quando finalmente podia comprar um, ainda passava uma leve vergonha, pois dizia: "me veja um Monteiro Lobato!" e a senhora que me atendia dizia que esse, só nos livros...


Até hoje quando vou comer um desses biscoitinhos, fico ansiando por reencontrar aquele sabor que ficou acentuado em mim, ainda não encontrei. Não perdi as esperanças.
Tive que aprender a fazer o quitute, mas nunca saiu tão delicioso quanto aquele que vendia na escola...
Um dia, hei de reencontrar-me com aquele gostinho dos tempos de escola. Meu rango legal.