quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Dos tempos de primário

        Foi na primeira série do Ensino fundamental que conheci aquela que seria,foi e, ainda deve ser, uma das professoras mais legais do mundo. 

       Naquela época não tinha internet, não tinha celular, as brincadeiras eram de se sujar, correr, de pique ou de “pira” (como se dizia na minha terra). E a gente se divertia à beça naquele tempinho do recreio. Mas voltando ao início, a professora Alice, lembro dela até hoje, também tinha sido professora da minha turma na 2ª série e isso contribuiu muito para que todos na classe ficassem bem afeiçoados a ela. Era alta de pele morena e cabelo crespos, era linda. Explicava com a paciência de um anjo e repreendia com a avidez de um carcereiro, mas nada impedia que eu gostasse dela, aprendi muito com aquela professora.

       Lembro que ainda na primeira série, eu, garotinho bobo que mal sabia atravessar a rua sozinho, certo dia estava fazendo uma prova na sala de aula, cuja matéria nem me lembro, mas eu estava indo bem (na minha opinião). Parecia que eu estava acertando tudo e fiquei contente com a minha expectativa. 
       Quando terminei a prova, eu simplesmente saí da sala e sem que ninguém notasse, pois estavam todos concentrados em suas provas e a professora estava com o olhar abaixado, estava lendo alguma coisa, uma prova de outro aluno talvez, ninguém notou que eu estava saindo com a prova que acabara de fazer, em minhas mãos, achando que, sei lá, a nota apareceria como que por mágica ou automaticamente, durante o percurso de volta pra casa, estava ansioso para mostrar pra minha mãe que eu tinha ido bem na prova ( muito bem, modéstia à parte). Mas quando cheguei em casa, todo contente, fui logo ao encontro de minha mãe e disse:

- Olha aí mãe, será que eu tirei dez? – Com aquele sorrisinho de garoto que vai ganhar estrelinha na testa.
- Meu filho! Tá sem nota isso daqui, tu não entregaste pra professora corrigir não?
- Não, tem que entregar?
- Claro! Vamos voltar lá agora!

        Ah! Tinha que relevar né, era tipo a minha primeira prova de verdade, eu estava na primeira série. Na alfabetização que chamavam de “pré” era tudo menos sério, não tinha provas assim. Era um mundo novo que eu ainda estava descobrindo.


       Chegamos de volta à escola, eu e minha mãe, encontramos com a professora Alice meio que na porta da escola. Mamãe tratou logo de explicar que eu havia levado a prova “sem querer” e entregou a ela a prova, sem maiores problemas. Claro que à essa altura a professora já tinha notado que eu havia sumido e minha prova também, o que explicava o fato de a termos encontrado próximo a porta da escola. Eu dei um sorrisinho sem graça para a professora, estava um pouco envergonhado por ter sido tão bobo. Voltamos pra casa e a vida continuou. Eu era um ótimo aluno naquela época, posso afirmar que isso se dava em grande parte à minha inteligência (é claro) e aquela professora que eu nunca esqueci.



Edinei Lisboa da Silva, Sargento da Aeronáutica, Especialista em Metalurgia. Autor do livro Poesia, prosa e canção, publicado pela Chiado Editora. Escreve no Blog do Argonauta, um pouco da própria vida e da vida em si. É meu poeta favorito e meu querido marido.


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Memórias escolares


Uma das minhas primeiras memórias escolares são relacionadas a aromas.

Um perfume adocicado forte sempre vai me lembrar "o primeiro dia de aula", aquela sensação de nervoso em começar em um lugar novo. Essa memória é de quando eu tinha 6 anos, durante a alfabetização. Eu tenho lembranças bem nítidas desse período. Lembro da sensação de felicidade em começar a aprender a ler. Primeiros os encontros vocálicos, depois as famílias das consoantes. Lembro de como adorava brincar de massinha e rabiscar as margens da folha do caderno. 

A vontade de escrever começou logo quando eu tinha 10 anos. Eu criei uma peça chamada "Duro de escolher" em que um príncipe conhece 3 camponesas e tem que decidir qual vai casar. Foi muito divertido ver meus amigos de escola encenando algo que eu tinha escrito. Esse período da quarta série definitivamente foi um dos meus favoritos. Adorava ler em voz alta os textos dos livros que as professoras pediam e não conseguia entender porque alguns colegas tinham tanta dificuldade. 


Já o período da quinta à oitava série foi mais difícil. Mudança de escola e sala quatro vezes maior. Convivência com garotas de 13 anos, que já pensavam em garotos e tinham atitudes mesquinhas só pra impressionar. Eu até conversava com algumas pessoas, mas passava mais tempo na biblioteca, onde fiquei amiga da bibliotecária. Esse foi um período um tanto solitário, mas foi importante, porque a partir dessa época comecei a escrever mais.

Mesmo com vários erros de ortografia, eu pegava os cadernos que não usava mais e "detonava as canetas", como a minha mãe dizia. Além disso, a amizade com Sônia, a bibliotecária, foi bem importante, afinal, ela me emprestou dois livros de uma série chamada Harry Potter para ler. Uma história bem bacana, sabe. Já ouviu falar?

Na sétima série, fiz boas amizades e foi mais uma vez muito prazeroso ver meus amigos lendo o que eu tinha escrito na série anterior. O engraçado é que, apenas há pouco tempo atrás, resolvi digitar essa história. Mas foi legal ver algo que eu tinha escrito há tanto tempo atrás. 

O Ensino Médio foi um período mais tranquilo. Fiz amigos logo no início. Amigos que, por sinal, continuo mantendo a amizade até hoje. Eu tinha ido para o colégio que eu tinha escolhido e conseguido passar na prova. O antigo Cefet, agora Ifpa. Foi difícil lidar com matérias que eu não gostava nem um pouco, como Física, mas também foi ótimo, pois o professor de História era rígido, mas me ensinou muito. 

A minha trajetória escolar contribuiu, com certeza, para eu me tornar a pessoa que sou hoje. Todos temos lembranças boas e ruins dessa época, mas é justamente essa mistura de altos e baixos que faz cada história ser única. 



Emanuele Oliveira é Publicitária formada, uma escritora criativa e tem viajado pelo mundo explorando novas culturas e aprendendo novos idiomas. É minha prima querida, amiga e confidente.

sábado, 6 de agosto de 2016

Memórias Raelísticas

                       Sim. Eu lembro da escola. 
                   Na minha cuca era apenas o "Pascoal" sobrenome do dono da escola, um cara robusto tal qual sua mulher que, eventualmente, apareciam por lá e eram vistos como autoridade.




            Lembro da professora Ivana que andava "marchando" só que com passos largos e acelerados. Lembro de tentar imitar o jeito dela de andar, impossível. Era demais aeróbico e difícil de manter a toada... As aulas de sabatina eram com ela. Íamos em dupla aquele que errava dava o bolo no colega. O meu amigo era o Dinho. Nossa amizade durou toda a tabuada de multiplicação quando estávamos na de dividir de "3" ele vacilou. Lembro do olhar da professora e do burburinho da classe frenética "dá-lhe, dá-lhe ". Dei - lhe .


           A palmatória era pesada e tinha um furo no Centro da concha que era pra "chupar" quando atingia a palma. Juro, eu maneirei. Dinho chorou não pelo impacto da palmada, mas pelo oníssono " uh vai chorar, uh vai chorar... " que os colegas gruniam em coro. Provei do amargo meses depois na de dividir de "7", 49÷7 = 7, 56÷7=8, 63÷7 = 6” E... Tam! Vi muitos morrerem nessa fase do jogo.


         Como nessa fase não haviam mais duplas, o ranço dos espalmados dominava o ar, eu ainda era um sobrevivente e quem me aplicou a palmada foi a professora Ivana, impacto não foi tão forte. Forte foi o gosto da derrota, o olhar insano da galera querendo a lágrima, mantive o sorriso até a curva da minha fila, e o coro não parava " uh vai chorar, uh vai chorar" , foi ali então que a psicologia reversa se fez.

          O rosto se desfigurou e as lágrimas esparsas brotavam generosas e o delírio do povo. Era como uma febre coletiva uma bolsa de apostas que todos ganham como se o Silvio Santos tivesse jogado aviões de R$ 100 pra todos simultaneamente, uma loucura. Fui para o meu lugar. Ao lado, Dinho que há meses não me dirigia palavra, impávido, me fitava e ao se fazer silêncio eu ainda choramingando, ele pegou no meu ombro e disse: "eu sei o que estás sentindo".



           Voltamos a nos falar, afinal a dor pode aproximar pessoas.


Israel Andrade Oliveira (Rael) entre tantas coisas é poeta, atleta, ufólogo, frontman da banda "Superself", mas o que mais gosto é que ele é meu primo, mais para irmão.